O sistema de saúde brasileiro enfrenta um grande desafio: como equilibrar inovação, acesso e sustentabilidade? Com o avanço das terapias inovadoras, o envelhecimento populacional e a alta taxa de desperdício, tanto o setor público quanto o privado buscam soluções viáveis para garantir a sua sustentabilidade.
A dependência do modelo tradicional de pagamento por volume (fee-for-service) levanta a questão: até quando será possível mantê-lo?
Em mercados mais desenvolvidos, a resposta tem sido a adoção dos Modelos de Saúde baseados em valor (Value-Based Healthcare – VBHC), que focam na qualidade dos desfechos clínicos e na eficiência do atendimento, ao invés do volume de serviços prestados.
Mas será que esses modelos de saúde funcionam no Brasil? Vamos explorar os principais formatos e seus impactos na oncologia, no tratamento de doenças raras e em outras áreas críticas do setor.
Principais Modelos de Saúde baseados em Valor

Outcomes-Based Agreements (OBAs): Pagamento por Desfecho
Os pagamentos são condicionados aos resultados clínicos alcançados. Se o tratamento não gerar o benefício esperado, há reembolso ou ajuste no contrato.
Onde já é adotado?
- Reino Unido (NHS) – Modelos aplicados a terapias oncológicas e doenças raras.
- Itália – Contratos de risco compartilhado para medicamentos inovadores.
- EUA – Grandes indústrias já firmaram acordos com planos de saúde.
Aplicação no Brasil? Algumas empresas farmacêuticas já testam contratos de risco compartilhado com operadoras de saúde.
Bundled Payments: Pagamento por Episódio de Cuidado
Em vez de pagar separadamente por cada consulta, exame e procedimento, um único valor cobre todo o ciclo de tratamento, incentivando eficiência e melhor coordenação do cuidado.
Onde já é adotado?
- EUA (Medicare) – Programa BPCI aplicado a cirurgias ortopédicas e doenças crônicas.
- Países Baixos – Pacotes de pagamento para tratamentos cardíacos e diabetes.
- Suécia – O Hospital Karolinska, considerado um dos melhores do mundo, implementou esse modelo para oncologia.
Aplicação no Brasil? Alguns hospitais privados já testam esse modelo, especialmente para cirurgias.
Capitation: Pagamento por Paciente
Os prestadores recebem um valor fixo por paciente que cobre toda a assistência necessária, incentiva a prevenção e reduz desperdícios.
Onde já é adotado?
- Reino Unido (NHS) – Clínicas gerais são remuneradas por número de pacientes cadastrados.
- Canadá – Modelo utilizado pelo sistema público de saúde.
- Brasil (SUS) – Aplicado na atenção primária, como no Programa de Saúde da Família (PSF).
Possibilidade no Brasil? Grandes operadoras privadas já utilizam capitation para serviços ambulatoriais.
Netflix Model: Pagamento por Assinatura
O governo ou operadora paga um valor fixo periódico para garantir acesso contínuo a medicamentos de alto custo.
Onde já é adotado?
- EUA – Aplicado ao tratamento da Hepatite C em estados como Louisiana e Washington.
- Espanha – Em fase de testes para tratamentos de doenças raras.
Aplicação no Brasil? Pode ser uma alternativa para viabilizar terapias gênicas e oncológicas de alto custo.
Shared Savings & Risk – Modelo de Economia Compartilhada
Hospitais e médicos compartilham os ganhos gerados pela redução de custos, desde que mantenham bons desfechos clínicos.
Onde já é adotado?
- EUA – ACOs (Accountable Care Organizations) operam nesse formato.
- Alemanha – Modelos de eficiência compartilhada no setor público.
Aplicação no Brasil? Alguns planos de saúde privados já oferecem incentivos financeiros para médicos que reduzem reinternações e otimizam custos.
Impacto dos Modelos Baseados em Valor
A transição para modelos de saúde baseados em valor pode trazer benefícios significativos para a oncologia, doenças raras e outras condições de alto custo.
- Oncologia e doenças raras: terapias inovadoras são caras e imprevisíveis. Modelos de risco compartilhado ajudam a garantir acesso sustentável.
- Doenças cardiovasculares e hipertensão pulmonar: reduzir hospitalizações e garantir acompanhamento contínuo pode evitar custos desnecessários.
- Diabetes e saúde mental: modelos de capitação e monitoramento remoto incentivam prevenção e adesão ao tratamento, reduzindo complicações.
Os desafios da implementação no Brasil
A transição para modelos de saúde baseados em valor exige mudanças estruturais e culturais. Entre os principais desafios estão:
- Integração de dados: necessidade de sistemas interoperáveis para monitorar desfechos clínicos.
- Regulamentação: atualizações no arcabouço jurídico para viabilizar novos contratos.
- Cultura de mercado: mudança no mindset de prestadores e operadoras de saúde.
O modelo atual demanda mudanças para garantir a sua sustentabilidade. Essa transição trará benefícios tangíveis para todo o ecossistema de saúde, incluindo pacientes, operadoras de saúde e indústria farmacêutica.
A importância dos Modelos de Saúde baseados em Valor
O alto custo dos tratamentos é um dos principais desafios do setor. Terapias oncológicas e medicamentos para doenças raras podem custar milhões por dose, tornando inviável seu financiamento sem um modelo sustentável.
Além disso, os desfechos clínicos variam entre os pacientes, o que torna essencial a adoção de modelos como os Outcomes-Based Agreements (OBAs), que garantem pagamento apenas quando há benefício real.
No caso de doenças raras, onde muitas terapias são administradas ao longo da vida, o modelo de assinatura ajuda a tornar os custos mais previsíveis.
Por fim, evitar desperdícios e reinternações também é fundamental. Internações não planejadas elevam os gastos, e modelos como Bundled Payments incentivam hospitais e médicos a trabalharem juntos para melhorar o cuidado e reduzir complicações.
A mudança já começou
O sistema de saúde brasileiro avança na transição para Modelos de Saúde Baseados em Valor, impulsionado pela necessidade de otimizar custos e garantir acesso sustentável. A adoção de modelos híbridos, como OBAs, capitation e bundled payments, pode equilibrar previsibilidade financeira, eficiência e melhores desfechos clínicos.
Para acelerar essa transformação, é fundamental fortalecer a integração de dados, adaptar a regulamentação e promover uma mudança cultural no setor.
Como Hub de Negócios da Saúde e Bem-estar, a Interplayers atua há duas décadas conectando os diferentes atores do ecossistema de saúde para promover o futuro do sistema de saúde brasileiro.